Um estudante cristão envolvido com a universidade – Entrevista a Rute Nangurá

Mais uma entrevista para a rubrica Uma conversa com a Universidade e desta vez Maria Cavaco, estudante de Faculdade de Letras entrevistou Rute Nangurá, também da Faculdade de Letras e envolvida no departamento da Cultura na Associação de Estudantes. A Rute conta-nos como é estar envolvida nas esferas da sua Faculdade:

Maria CavacoÉs uma estudante envolvida com as estruturas da Faculdade. Como começou esse envolvimento e porquê? E o que te move neste momento?

Rute Nangurá – Este envolvimento tem uma história por detrás e esta história remonta ao período antes de entrar para a FLUL. Ainda antes de saber que vinha para a FLUL, eu queria mesmo fazer parte de alguma estrutura estudantil, porque tive essa experiência também no secundário. E gostei muito! Foi uma ótima experiência, aprendi muito, aprendi a relacionar-me melhor com os outros, algo que eu acho que não sabia fazer muito bem (e continuo a não saber a 100%). Então fazer parte da Associação de Estudantes também na faculdade era algo que eu queria mesmo fazer. Não só pelas coisas que eu podia ganhar com esse envolvimento, mas também pelo facto de poder servir a Deus nesta área.

O que me move neste momento é o serviço. Estou a tentar perceber quais é que são os meus pontos fortes e fracos na área do serviço. Estou também ainda a tentar perceber de que forma este é o meu chamado, mas eu quero muito servir a Deus e AE deu-me oportunidade de o fazer; se eu continuar na AE sei que continuarei a ter oportunidades de serviço e isto é algo que quero explorar ainda mais.

MC – Como o envolvimento na AE mudou a forma como vês a Faculdade? Consegues descrever este “corpo” que é a Faculdade a partir do teu olhar de bastidores?

RN – Mudou grandemente a forma como eu vejo a faculdade! A faculdade é constituída pelos órgãos principais, depois temos os alunos, os funcionários, etc… Mas na AE eu consigo ver e conhecer com quem é que eu estou, quem é que me representa a mim e aos meus colegas perante a restante faculdade. Fui percebendo que esta AE nem sempre consegue representar os alunos na perfeição, mas fazem o melhor que conseguem dadas as limitações de sermos estudantes com pouco poder de decisão. E, apesar dessas limitações, foi bom ver a forma como os membros da AE lutam por nós, estudantes, e, enquanto cristã, foi bom ver como é que eu podia fazer parte disso, em específico no departamento da cultura.
Eu estava num departamento muito específico dentro da AE, talvez não consiga ver o todo da Faculdade. Mas eu diria que consegui perceber um bocadinho do funcionamento das coisas, e como é que a administração e o Diretor lidam connosco. Foi interessante ver a forma como ele tem consideração pelas nossas opiniões.

MC – Quais são, actualmente, os maiores desafios que o Ensino Superior, em geral, e esta Faculdade, em particular, enfrentam?

RN – É uma pergunta muito complexa. Parece-me que a minha geração tem tendência para se preocupar em demasia com certos assuntos e nem sempre nos focamos noutros que são até mais importantes. Não consigo dizer em pormenor quais são os grandes desafios a um nível geral. Mas falando na FLUL, acho que é muito complicado hoje em dia separar as nossas opiniões pessoais daquilo que vem, por exemplo, das humanidades, das ciências sociais, etc. Dentro da Faculdade está a haver um grande shift no que diz respeito a isto. Na minha perspetiva isto conduz a um grande afastamento da verdade.

MC – Mesmo sendo o ensino público um organismo onde deve imperar a neutralidade religiosa, em que medida é que a espiritualidade cristã pode ser um tema relevante? Porquê? Em que medida é precisa ou não essa espiritualidade cristã?

RN – O ensino superior deveria ser um local neutro, mas atualmente está longe de o ser. Enquanto cristã, eu reparo frequentemente que há uma grande pressão para que eu não tenha voto nas matérias, que eu não emita nenhum parecer em relação ao que está a ser discutido. Por exemplo, tive aulas em que era muito difícil eu dizer aquilo em que eu acredito. Houve algumas vezes em que eu própria escolhi não dizer, infelizmente. Mas, noutras ocasiões, quando eu escolhia falar, notava que havia revolta e “virar de olhos” por parte de professores até. As pessoas recusam ouvir a perspetiva cristã baseada na Bíblia e essa recusa tem entrado na Universidade.

A espiritualidade cristã pode ser importante para muitas das questões que nós tratamos aqui na Faculdade, seja em estudos de cultura, estudos de literatura, estudos historiográficos, etc. Nessas áreas nós conseguimos encontrar evidências de que Jesus existiu. Mesmo através da língua e das marcas que foram deixadas pelos nossos antepassados podemos ver que Jesus veio ao mundo. Então o cristianismo é um facto relevante, incontornável, para a História e outras áreas abordadas nesta Faculdade.

MC – “Uma fé que pensa, uma razão que crê“ tem sido um dos lemas do GBU. Na tua opinião é desejável que a crença e o saber convivam melhor no espaço universitário ? (Se sim, como alcançar esse tipo de convívio)?

RN – Sem dúvida. Tem de haver um espaço maior para o diálogo e nós temos de nos chegar à frente e falar mais abertamente sobre aquilo que vivemos, sobre a nossa fé. Eu acho que há muita estranheza e muita confusão no que toca à forma como os outros veem o cristianismo. Então é necessário estarmos prontos a esclarecer melhor as pessoas, dialogar abertamente, para eventualmente elas se interessarem mais por Jesus.

MC – Qual a importância, na tua opinião, de um estudante cristão vivendo a sua fé em Cristo envolvido na Universidade? E como poderá ele fazê-lo considerando o pouco tempo de que dispõe?

RN – Eu acho que é muito importante os cristãos estarem envolvidos nas grandes estruturas da faculdade. No meu departamento eu sou a única cristã e a maior parte das pessoas que lá encontro até se manifestam contra o cristianismo. Noto que há muita estranheza relativamente à minha forma de viver, mas ao menos essas pessoas podem ter acesso a uma postura cristã através do convívio comigo. E quanto mais acesso têm à fé cristã, mais oportunidade há para que surjam mudanças nas vidas delas. Também considero importante este envolvimento porque um cristão pode fazer a diferença nestes órgãos, contribuindo para mudar a forma como as coisas são feitas e sendo uma boa influência na estrutura académica.

É verdade que temos pouco tempo, até porque não somos só estudantes, somos também filhos, amigos, etc. e temos muitas outras coisas. Mas se gerirmos bem o nosso tempo, pedindo direção a Deus, acho que é possível conciliar as várias responsabilidades.

Rute Nangurá estuda Línguas, Literaturas e Culturas na Faculdade de Letras da Universidade de Lisboa. Integra o Departamento da Cultura na Associação de Estudantes.
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