Estudantes do GBU Portugal visitam o GBU Ucrânia

Estudantes do GBU Portugal visitam o GBU Ucrânia

No início deste ano, o Miguel e a Valentyna do GBU Aveiro viajaram até à Ucrânia para estarem com os estudantes de lá, participando no Mark Camp, organizado pelo “GBU” deste país. Nesta entrevista, o Miguel partilha acerca desta experiência marcante! 

GBUP: Como surgiu a ideia de irem a uma conferência do GBU Ucrânia?

Miguel: A ideia de ir à Ucrânia já tinha surgido no ano passado, também no sentido de participar de uma conferência do GBU da Ucrânia, mas na altura não consegui ir. Este ano fui novamente convidado pela Marina, assessora do GBU em Kiev e, uma vez que este ano era possível ir acompanhado com a Valentyna e não sozinho, decidimos finalmente ir. 

GBUP: Como está o espírito dos estudantes cristãos ucranianos? Daquilo que pudeste observar, como é que eles vivem o desafio de estudar e manter a missão num clima de guerra?

M: O espírito dos estudantes cristãos ucranianos varia um pouco. Eu não falei disto diretamente com muitos enquanto lá estive, apenas com alguns estudantes, mas parece que há sempre um peso intrínseco em toda a gente, uma espécie de peso associado à nação dos estudantes e dos ucranianos no geral. Mas, em concreto, isto varia de pessoa para pessoa: se são estudantes de Lviv que nunca viram a guerra ao vivo, e que só ouviram algumas explosões na cidade, se calhar isto não é tão intenso, mas com os estudantes de Kiev ou Kharkiv, muitos deles ainda deslocados, é mais evidente.

Manter a missão num clima de guerra implica muita instabilidade, principalmente nas cidades mais na linha da frente. Há casos como Mykolaiv, cidade em que o GBU se extinguiu completamente. Em Kharkiv há algumas reuniões online, mas o grupo é praticamente inexistente e em Odessa sabemos que os estudantes de medicina ainda se reúnem, mas o grupo está muito débil. Por outro lado, nas cidades mais seguras, os grupos estão extremamente ativos, pois também acolheram muitos estudantes provenientes de cidades onde o perigo é maior. O grupo da cidade de Ivano-Frankivsk tem feito vários eventos e tem até recebido vários estudantes internacionais, principalmente da Índia e do sudeste asiático. Tanto Ivano-Frankivsk como Lviv eram cidades onde o movimento estudantil era pequeno, mas agora são grupos muito grandes, com capacidade até para organizar eventos de grande logística como ciclos de palestras e com uma grande assistência e isto é muito encorajador. Apesar de vermos, por um lado, o movimento estudantil a diminuir, por outro lado há cidades da Ucrânia em que esse movimento está a ficar mais forte e há estudantes a converterem-se. 

A missão estudantil standard, como seria desejável com os estudantes nas cidades e universidades da sua escolha, não pode continuar, mas a verdade é que, no meio dos constrangimentos existentes, os estudantes continuam a virar costas para o pecado e a arrepender-se e isso é o mais importante.

GBUP: O que esta experiência acrescentou à tua fé enquanto estudante universitário?

M: Aumentou a minha confiança na fidelidade de Deus. Lembro-me que no primeiro ano de guerra, em 2022, eu estava no Fórum do GBU Portugal e partilhava com alguns o quão complicado estava a ser para mim crer na bondade de Deus e na fidelidade de Deus às suas promessas quando tínhamos o leste da Europa a ser atacado e o regime russo a dizimar pessoas indiscriminadamente. Isso para mim na altura foi um grande baque, pelo menos no que diz respeito a entender a bondade de Deus.

Mas a minha perspetiva foi-se alterando ao longo destes anos. Agora, ao chegar à Ucrânia, passados quase dois anos desde o início da guerra, pude ver quantos corações estavam a ser transformados mesmo em situação de guerra e isto fortalece a minha confiança na fé que é nos dada por graça e no amor de Jesus.

E outra coisa que esta experiência também acrescentou foi o meu amor pelo movimento estudantil. Enquanto estudante do GBU, eu sempre tive envolvido na direção do grupo local de Aveiro desde o meu segundo ano da Universidade. Mas participar no GBU tinha um sabor agridoce, porque eu compreendia que era necessário estarmos unidos para o reino de Deus na Universidade, mas ao mesmo tempo era frustrante quando as coisas, planos, projetos, não corriam como nós queríamos… isso pode até influenciar o nosso amor pelo Evangelho, o amor pelos estudantes universitários, enquanto estávamos em grupo. Só que esse sentimento foi-se alterando aos poucos no meu coração ao longo destes quatro anos de Universidade e agora, chegando à Ucrânia, vendo como o movimento estudantil acontece independentemente das circunstâncias, mudou de vez. Percebi, de facto, que se não for Deus a construir então nada se constroi; percebi que é possível descansar e confiar mesmo quando se está a trabalhar para alcançar estudantes; este novo sentimento dá-me uma espécie de permissão para o amor pelos estudantes se desenvolver realmente. Chegar à Ucrânia, e ver em primeira mão como está o movimento estudantil lá, foi o pináculo desta jornada. A dada altura da conferência dei por mim a pensar: “Uau, eu gosto e tenho mesmo prazer em fazer parte da grande comissão que Deus nos deu, no contexto da universidade!” É verdade que, naquele momento, eu até estava num retiro nas montanhas e não propriamente na universidade, mas estava rodeado de estudantes que iam sair dali para a universidade, motivados para falar com os seus amigos sobre Jesus. Ter a percepção de que eu estava a fazer parte disso, que Deus me estava a conceder esta bênção, foi um grande reconforto para o coração. Algo que, como expliquei, nem sempre aconteceu nos últimos três anos na Universidade. 

GBUP: Como podemos orar pela GBU na Ucrânia?

M: O mais evidente e óbvio é orar por segurança física, porque nestes últimos dias e nestas últimas semanas o conflito tem escalado de uma maneira brutal. O recente ataque à infraestrutura hidroelétrica de Dnipró deixou muitos milhares, se não milhões, de ucranianos sem luz. E também estão a ser intensificados os ataques em Kiev, em Lviv e Ivano-Frankivsk, que eram até aqui as cidades mais seguras. Se as cidades mais seguras estão a ser outra vez massacradas, será muito mais difícil que os estudantes destas cidades se reúnam em segurança.

Podemos também orar pelos corações dos estudantes que foram ao Mark Camp, que não conhecem Jesus, mas que quase o puderam ver com os próprios olhos nesse retiro ao estudarem o evangelho de Marcos completo, ao orarem e ao serem desafiados. 

Podemos também orar pelos assessores, porque os assessores estão fatigados. Porque agora não têm só de lidar com os estudantes, mas têm de saber lidar também com tudo o que a guerra está a implicar em termos de saúde mental de assessores e de estudantes. Ao fazerem mentoria com os estudantes é como se também tivessem de lhes dar apoio psicológico. Isto é bastante desafiante. 

Também orar pelo Zhenya, que é assessor do GBU em Lviv. Uns dias antes de eu viajar para a Ucrânia ele foi chamado para ir para o centro de recruta e para o centro médico de modo a fazer exames para integrar o exército. Creio que ele ainda não foi chamado efetivamente para ir para a guerra, ou pelo menos eu não tive esse update. No entanto, desde que estive na Ucrânia até agora, ele está neste impasse sem saber se vai ou não para a frente de batalha. Portanto oremos por ele e também pelo GBU de Lviv.

Finalmente, podemos orar pelo futuro do GBU nos grupos que cessaram ou que estão “presos por um fio” (Mykolaiv,  Odessa e Kharkiv, já referidos atrás). Mykolaiv está muito perto da fronteira, muito perto da frente da guerra, e a situação lá é bastante triste.

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